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Análise – Sea of Stars

Uma carta de amor aos RPGs da geração 16bits

Os chamados jogos Neo Retro têm vindo a ganhar popularidade não só entre os saudosistas que procuram algo mais próximo daquilo com que cresceram, mas também entre as gerações mais novas, angariando-as para algo remetente à era dos sprites em pixel art e “beeps” das chiptunes. Sea of Stars é a nova aposta do estúdio Sabotage e já marcou a sua posição entre um dos melhores RPGs Indie de sempre.

Premissa:

Sea of Stars segue a história de Valere e Zale, dois guerreiros do solstício (“Solstice Warriors”), num mundo de ilhas recheadas de magia e perigos.
Após anos de treino numa academia, os dois heróis partem numa aventura destinada a derrotar o Fleshmancer, um ser inter-dimensional que quer governar o mundo. Valere é uma guerreira monge que controla os poderes da Lua, e Zale um guerreiro mago que controla os poderes do Sol. Pelo caminho irão encontrar (e reencontrar) amigos e aliados que os vão ajudar nesta demanda. Na verdade, esta é uma prequela de outro jogo do mesmo estúdio de 2018 chamado The Messenger, um platformer de acção, também em pixel art. Embora partilhem o mesmo universo, Sea of Stars tem a sua própria história independente.

Gráficos e apresentação:

No mundo gastronómico costuma-se dizer que os olhos também comem, expressão também perfeitamente aplicável a um jogo inteiramente concebido em gráficos pixelizados, para aqueles que procuram saciar o “apetite” por jogos retro. Este foi, possivelmente, o factor “gancho” que atraiu milhares de curiosos à campanha Kickstarter quando o jogo foi originalmente apresentado em 2020. Sea of Stars é absolutamente deslumbrante. Muitos outros jogos actuais com esta abordagem retro fundem os gráficos Pixel Art com animações e pormenores 3D, seja para realçar algumas texturas, efeitos de luz, sombras e/ou mesmo partículas, mas Sea of Stars é inteiramente feito numa das Pixel Arts mais detalhadas que já tive a oportunidade de ver e experienciar num videojogo. Os backgrounds são detalhados e imersivos, as cores são vivas, as animações fluidas e tudo à nossa volta parece estar vivo. Desde pedras que rolam, arbustos que mexem, folhas que caem das árvores, reflexos na água, o próprio movimento do mar, riachos e lagos, lareiras e tochas com lume vibrante, as transições de dia para a noite com passagens subtis par o lusco-fusco ao pôr do Sol… cada pixel parece ter vida própria neste jogo. O design das personagens é característico do género JRPG, com inimigos originais que trazem algo fresco e diferente nesta proposta. A complementar o desenrolar da narrativa, temos pelo meio cutscenes, também elas em Pixel Art aspirando a um estilo anime. Os próprios desenvolvedores revelaram as suas inspirações, citando exemplos como Chrono Trigger, Illusion of Gaia, Secret of Mana, ícones da Super Nintendo da geração 16bits, mas atrevo-me a dizer que Sea of Stars vai um pouco mais longe. É notória, de facto, a influência destes clássicos, mas não aparenta ser um jogo possível de correr no hardware da Super Nintendo ou da Mega Drive – diria que Sea of Stars se aproxima mais de um título de lançamento de uma PlayStation 1 ou de uma Sega Saturn. Sendo eu um apaixonado pelos jogos desta geração, e de já ter jogado a minha conta justa de JRPGs, posso dizer que a arte deste jogo é das mais incríveis que vi dentro do seu género.

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Jogabilidade:

Poderia resumir Sea of Stars como um RPG com um sistema de combate por turnos, mas vai um pouco mais para além disso. É um jogo linear, com um mapa generoso, numa narrativa simples com alguns clichês (se bem que muito bem executados) mas com muitas outras camadas a complementar o clássico estilo turn-based. A clássica câmara topview mistura-se com panorâmicas isométricas que dão mais profundidade e sensação de espaço nos diversos cenários que percorremos. Há elementos de plataformas, como trepar por lianas e escadas, saltos, escalada e itens como uma fateixa que nos permite aceder a áreas mais difíceis. Quem gosta de Puzzles e quebra-cabeças também tem muito com que se entreter, como o clássico arrastar de pedras e colunas para aceder a áreas mais altas, padrões que necessitam de ser decifrados para podermos progredir e dilemas que revelam passagens secretas. Grande parte destes puzzles são executados através de uma mecânica onde a Valere e o Zale controlam o tempo, mais concretamente, o dia e a noite. Certas áreas reagem de maneira diferente consoante a altura do dia, cujas fases pode ser necessário balancear e cronometrar para desvendar todos os segredos. Os enigmas aparentam ser demasiado fáceis ao início mas vão progredindo em dificuldade com o decorrer da aventura, não chegando a tornar-se frustrantes. Nenhum deles me pareceu forçado, são bem desenhados e conseguidos.

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Sistema de Combate:

O termo turn-based muitas vezes afasta os curiosos, mas não é motivo para o fazerem em Sea of Stars. Esta abordagem clássica de combate por turnos que remonta aos clássicos 8bits como Dragon Quest e Final Fantasy é, por vezes, vista como datada e um pouco aborrecida, principalmente para aqueles que não cresceram com jogos que a usavam, mas o que temos aqui é uma nova abordagem ao estilo, onde os veteranos vão sentir-se em casa sem deixar de ser surpreendidos, e os novatos vão encontrar um sistema de combate fácil de aprender mas difícil de dominar. Em primeiro lugar, não existem encontros aleatórios (random encounters). Grande parte dos “mobs” podem ser evitados, desde que tenhamos destreza suficiente para o fazer, e uma vez derrotados, não regressam à vida ou “fazem respawn”, a não ser que voltemos atrás à mesma área, para que seja possível fazer grind. Contudo, o pacing do jogo é bem doseado, pelo que não vão encontrar grande necessidade em investir horas e horas em lutas repetitivas. Por falar em repetitivas, nenhuma das lutas, inimigos, ou bosses me fez sentir que estava a repetir o mesmo vezes e vezes sem conta. Cada inimigo tem a sua mecânica, cada batalha tem a sua dinâmica e o seu timing. Do lado do jogador podemos ter até 3 personagens da nossa party em combate, temos os nossos pontos de força (HP) e de feitiços/habilidades (MP) e inúmeras skills que vamos desbloqueando no decorrer do jogo. Temos também uma barra de contadores de combo que nos permitem fazer precisamente isso, executar combos. Estes variam de personagem para personagem, sendo que uns são mais ofensivos e outros mais passivos, como por exemplo curar aliados.

Já os inimigos, têm umas slots com símbolos gerados aleatoriamente, como o de uma espada, sol, veneno, etc., que estão associados a uma mecânica de break, onde ao executarmos um ataque ou feitiço referente a cada um dos símbolos, estes desaparecem, e se conseguirmos derrubá-los todos antes do turno do inimigo, as suas defesas baixam consideravelmente. E a velha tática de estar sempre a pressionar o botão em “piloto automático”, executando o mesmo ataque atrás de ataque? Não é muito prático aqui. Em cada ataque executado, ou recebido, há um “memento” onde, ao carregar no botão no momento certo, podemos ampliar o ataque executado ou deflectir o ataque recebido. Cada vez que um inimigo recebe um ataque deixa cair umas esferas mágicas que servem como pontos de magia, mas que não são pontos de mana; estas esferas fazem parte de uma mecânica chamada de “magic without magic”, onde podemos fazer stack de até 3 esferas, e ao utilizá-las, os nossos ataques ou magias ficam mais poderosos.

As batalhas com os bosses são bem desafiantes, havendo um pouco de tentativa e erro aqui. Cada boss tem a sua mecânica e várias fases ao longo do encontro. Temos de explorar bem cada uma das suas fraquezas, estudar os seus padrões de ataque e sincronizar os nossos, de maneira a quebrar as defesas do adversário. Enquanto alguém que cresceu a jogar jogos com combates por turnos, pensava já ter visto um pouco de tudo e que este jogo iria ser apenas “mais um”, mas até aqui Sea of Stars conseguiu surpreender, com um sistema de combate clássico e ainda assim bem adaptado aos dias de hoje com mecânicas novas e frescas.

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Conteúdos Extra:

Como previamente referido, a história e narrativa de Sea of Stars é simples, directa e linear, mas o seu mundo não deixa de estar recheado de mistérios, segredos e conteúdos para aqueles que gostam de actividades extra e de bom grado investem umas horas a mais para completar tudo a 100%.
Ao invés de poções para recuperar vida e mana, porque não algo mais simples e óbvio? Durante a nossa aventura contamos com a companhia de Garl, o guerreiro cozinheiro, como o mesmo se apresenta. Amigo de infância de Valere e Zale, é um destemido guerreiro em combate e chef de excelência nas horas de lazer. Ao longo do nosso percurso vamos apanhar vários ingredientes e receitas para podermos cozinhar nos acampamentos. Durante estes momentos de lazer ouvir as histórias curiosas deste universo contadas por Teak, a nossa companheira de cabelo rosa. Nos lagos das diversas ilhas que iremos explorar podemos pescar várias espécies de peixe e marisco durante as nossas viagens; já para os que preferem ambientes mais urbanos, temos acesso a um jogo de miniaturas nas estalagens onde vamos ficando. Este jogo é literalmente um jogo dentro de um jogo. Ao longo da aventura vamos colecionando um set de miniaturas que contém um mago, um guerreiro, um arqueiro, etc, e no tabuleiro de jogo escolhemos dois para derrotar o adversário, também com dois do seu lado. 10 pontos de vida para cada e uma slot machine por turnos que gera pontos de ataque, pontos de nível de personagem, ou pontos para fortalecer a nossa base e defender os nossos pontos de vida. É um jogo simples mas muito divertido, onde passei horas a jogar e a colecionar todas as miniaturas do set. Mais à frente, sem revelar demasiado, vamos poder construir uma aldeia para refugiados, mas isso cabe a vocês descobrirem.

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Banda sonora:

Que melhor sonoridade do que a dos clássicos sons de “chiptunes”, tão característicos dos anos 80 e 90? Toda a banda sonora de Sea of Stars soa a músicas de chiptunes que poderia, perfeitamente, ter sido concebida no soundchip da SNES. Mesmo o delay tão característico da 16bits da Nintendo está lá representado. Uma biblioteca de temas bem escritos e produzidos que nos guia por momentos mais alegres, a momentos de tensão em batalha, percorrendo paisagens sonoras ambientais e melancólicas. Confesso que durante os dias em que joguei Sea of Stars fiquei com várias melodias do jogo na cabeça, dando por mim a assobiá-las. O estúdio Sabotage sacou de um “trunfo” bem grande nesta banda sonora, pois contou com participação do mestre Yasunori Mitsuda, o lendário compositor da “velhinha” Squaresoft (actual SquareEnix) tendo sido o responsável pelas obras primas de Chrono Trigger, Chrono Cross e Xenogears, entre outros clássicos. Não consigo dizer nenhuma música que não encaixe na perfeição em cada cenário ou ambiente, um feito difícil num jogo todo feito em pixel art. Quando não temos elementos narrativos como sons reais, voice acting e/ou cenas mais complexas em cutscenes, uma banda sonora mal concebia ou implementada pode arruinar um jogo destes, mesmo tendo boas mecânicas, história e sistema de combate, mas as melodias e harmonias de Sea of Stars ficaram bem entregues, e o resultado é magnífico.

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Conclusão:

Devo confessar que este era dos jogos que mais esperava. Cresci a jogar RPGs japoneses e estimo os clássicos onde o estúdio Sabotage “foi beber”: do já várias vezes mencionado Chrono Trigger a Final Fantasy VI, de Secret of Mana a Terranigma, passando por títulos menos conhecidos da era dos 16bits como G.O.D. ou Bahamut Lagoon. Sou um aficionado por esta vertente de RPGs Neo Retro que nos tem brindado com pérolas incríveis como Octopath Traveler, Stardew Valley ou Undertale. E posso dizer com confiança que Sea of Stars é uma carta de amor aos RPGs da geração 16bits onde os novatos se irão surpreender e os veteranos sentir-se em casa.

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Uma carta de amor aos RPGs da geração 16bits Os chamados jogos Neo Retro têm vindo a ganhar popularidade não só entre os saudosistas que procuram algo mais próximo daquilo com que cresceram, mas também entre as gerações mais novas, angariando-as para algo remetente à era dos sprites em pixel…

Sea of Stars (PS5)

Jogabilidade - 100%
Gráficos - 100%
Som / Banda Sonora - 100%
Longevidade - 100%
História - 100%

100%

Obra Prima

Devo confessar que este era dos jogos que mais esperava. Cresci a jogar RPGs japoneses e estimo os clássicos onde o estúdio Sabotage “foi beber”: do já várias vezes mencionado Chrono Trigger a Final Fantasy VI, de Secret of Mana a Terranigma, passando por títulos menos conhecidos da era dos 16bits como G.O.D. ou Bahamut Lagoon. Sou um aficionado por esta vertente de RPGs Neo Retro que nos tem brindado com pérolas incríveis como Octopath Traveler, Stardew Valley ou Undertale. E posso dizer com confiança que Sea of Stars é uma carta de amor aos RPGs da geração 16bits onde os novatos se irão surpreender e os veteranos sentir-se em casa.

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